Semana de 18 a 24 de fevereiro de 2024 I DOMINGO DA QUARESMA – Ano B
Sabemos que, por vezes, não é fácil preparar o momento de oração em família. Todavia, com alguma fé e perseverança, conseguimos. Podemos ter a Bíblia aberta no início do Evangelho de São Marcos e uma vela que acenderemos quando todos estivermos prontos para começar.
Empenhados em vivenciar intensamente a quaresma, convertendo-nos em construtores e arautos do “Reino de Deus”, benzemo-nos
Em nome do Pai, em nome do Filho, em nome do Espírito Santo, estamos aqui,
Para louvar e agradecer, bendizer e adorar: estamos aqui, Senhor, ao Teu dispor. Para louvar e agradecer, bendizer e adorar: e aclamar Deus Trino de Amor.
Em nome do Pai…
Louvemos a Deus que reina no nosso coração e nos dá a esperança, conforto e felicidade
Mas que descanso é viver a morrer todos os dias Por ir contra o próprio querer Esquecer o que se queria e querer o que Deus quer Queira eu o que Deus quer.
Nesta Quaresma, procuremos proximidade com o nosso Deus que nos procura, nos abençoa e nos abraça, mesmo quando, no nosso egoísmo e autossuficiência, teimamos em trilhar caminhos de pecado e de infidelidade. Congratulemo-nos com as bênçãos que derrama sobre nós e completemos a frase, em voz alta : Obrigado Pai, por…
Escutemos atentamente o texto de Mc 1, 12-15. Deixemos que o amor de Deus nos transforme e nos faça renascer para a vida nova.
Naquele tempo, o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O. Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
O seguinte texto ajudar-nos-á a meditar sobre a passagem bíblica anterior
Geograficamente falando, o deserto é um lugar despovoado, árido, isolado, desabitado, caracterizado pela escassez de vegetação e falta de água. Diz o texto que “o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto”. Jesus não foi ao deserto para lá ficar ou fugir das pessoas e das relações sociais. O deserto para Jesus foi um tempo de preparação para a sua vida pública.
Para a Bíblia, o deserto é o local onde Deus se revela e é aí que Deus quer ter um encontro connosco em clima de silêncio, de escuta e de prova. O deserto é o palco da nossa rendição, onde nós somos chamados a depor as nossas armas para nos entregarmos nas mãos de Deus, como nossa força, refúgio e baluarte. O deserto é um lugar de sofrimento purificador e da reflexão, embora possamos recusar esta graça. O deserto é a geografia concreta, o espaço e o tempo de união com Deus. Por isso Oseias (Os 2, 16-17) o propõe como lugar propício para captar a mensagem espiritual, tal como a Igreja nos propõe todos os anos na quaresma.
A quaresma deve ser para nós como este deserto: um tempo de silêncio, de meditação, de discernimento, de oração, de encontro com Deus, um tempo de carregar o tanque da alma. Muitas vezes, na nossa vida quotidiana, recusamos espaços de silêncio e solidão porque temos medo de nos encontrar connosco próprios e com Deus e descobrir que estamos longe do seu projeto sobre nós. Por isso, ir ao “deserto” requer a coragem dos humildes, dos que não têm medo de volta a começar.
Não há deserto sem jejum e abstinência. Num mundo louco pelas possibilidades de consumo, de diversão, de evasão e que endurece o coração perante tanta pobreza e tanto sofrimento, precisamos de jejuar. Todos os que se retiraram para o deserto, para se encontrar com Deus, jejuaram. O profeta Joel indica-nos verdadeiro sentido desta antiga prática penitencial: “Mas agora, diz o Senhor,convertei-vos a mim de todo o vosso coração com jejuns, com lágrimas, com gemidos. Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes” (Jo 2, 12-13). O profeta Isaias explicita: “O jejum que me agrada é este:libertar os que foram presos injustamente, livrá-los do jugo que levam às costas, pôr em liberdade os oprimidos, quebrar toda a espécie de opressão, repartir o teu pão com os esfomeados, dar abrigo aos infelizes sem casa, atender e vestir os nus e não desprezar o teu irmão.” (Is 58, 6-7)
À luz destas palavras, compreendemos por que razão, com o tempo, o jejum como abstenção de comida cedeu lugar ao jejum como símbolo e expressão duma renúncia a tudo aquilo que nos impede de realizar em nós o projeto de Deus, convidando-nos a transformá-lo num gesto de solidariedade efetiva para com o próximo.
Naturalmente, seria mais fácil limitarmo-nos a “cumprir” o jejum de alimentos proposto pela Igreja mas precisamos de descobrir esses “outros” jejuns como meios adequados para mudar o que mais nos custa. Talvez se trate de falar menos, de fazer menos gastos supérfluos, de perder menos tempo com televisão, computador, Net e jogos para o entregar a quem precisa da tua companhia, de não usar palavras ofensivas, de não ser violento, de teres fome e sede de justiça, de não ser escravo de ninguém nem de nada, de dar tempo para Deus. O jejum, nas suas várias formas e expressões, deve avivar e reavivar em nós o amor, abre o nosso coração à partilha, faz produzir frutos de justiça, caridade e oração.
Procuremos viver este tempo de Quaresma como tempo propício para repensarmos a nossa forma de abordar a vida e de tratar os nossos irmãos, convertendo-nos, transformando a nossa mentalidade e os nossos comportamentos, reformulando os valores de modo a que Deus passe a estar no centro da nossa existência e ocupe sempre o primeiro lugar. Reflitemos:
Estou disposto a ir ao “deserto” nesta quaresma?
Valorizo o jejum?
Sou solidário?
Nesta quaresma, qual será o meu jejum e de que forma serei solidário?
Neste tempo de silêncio, de meditação, de discernimento, de oração, de encontro com Deus, em que buscamos interiormente a nossa essência, entreguemos as nossas dificuldades a Deus e façamos-lhe os nossos pedidos.
Entusiasmados a experienciar uma vida de amor total, de doação incondicional, de serviço simples e humilde, de perdão sem limites, rezemos confiantes, na companhia de Jesus
Senhor, queremos acolher no nosso coração a Tua “Boa Notícia”, fazendo dela o guia da nossa própria vida e, assim, escolher o verdadeiro caminho para renunciar ao egoísmo, ao orgulho, à autossuficiência e ao comodismo.
Recebendo o Amor de Deus, a fonte absoluta do Amor, que nos guia e ensina na verdade, benzemo-nos