Semana de 17 a 23 de março de 2024 V DOMINGO DA QUARESMA – Ano B
De modo a nos prepararmos da melhor forma para a intensa vivência da Páscoa do Senhor, entreguemo-nos a este momento de oração de forma descomplexada, vivificante e entusiasmante. Entendamos o que precisamos e tenhamos em consideração o que os outros necessitam para todos juntos usufruirmos o melhor possível desta oração. Podemos ter uma Bíblia preparada para a leitura de João 12, 20-33 e uma vela para acendermos quando estivermos todos prontos.
Querendo trilhar um caminho de amor e de doação, de onde brote a Vida verdadeira, benzemo-nos
Em nome do Pai, em nome do Filho, em nome do Espírito Santo, estamos aqui,
Para louvar e agradecer, bendizer e adorar: estamos aqui, Senhor, ao Teu dispor. Para louvar e agradecer, bendizer e adorar: e aclamar Deus Trino de Amor.
Em nome do Pai…
Com entrega confiada nas mãos de Deus, Aquele que dá a Sua vida aos outros, sejamos “trigo” e louvemo-Lo
Se o grão de trigo não morrer na terra É impossível que nasça fruto. Aquele que dá a sua vida aos outros Terá sempre o Senhor(bis)
Felizes seremos nós na pobreza Se em nossas mãos houver o amor de Deus Se nos unirmos à esperança Se trabalharmos por fazer o bem. Felizes seremos nós na humildade Se como crianças soubermos viver A terra será a nossa herança, a nossa herança.
Verdadeiramente decididos a conhecer Jesus, olhando para Ele, identificando-nos com Ele, aprendendo com Ele a pôr a nossa vida ao serviço do projeto de Deus, sigamos os Seus passos até ao caminho da cruz. Renascidos e de coração transformado pelo amor infinito de Deus, deixemos que Ele ouça a nossa voz revelar-Lhe o tanto pelo que Lhe estamos gratos.
Naquele tempo, alguns gregos que tinha vindo a Jerusalém para adorar nos dias da festa, foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este pedido: «Senhor, nós queríamos ver Jesus». Filipe foi dizê-lo a André; e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me quiser servir, que Me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém Me servir, meu Pai o honrará. Agora a minha alma está perturbada. E que hei de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora. Pai, glorifica o teu nome».
Tentemos explorar um pouco deste texto do Evangelho
Uma semente vive, floresce e produz fruto e vida com abundância mas primeiro tem de ser lançada na terra e passar pela “morte”. A verdadeira semente é aquela que se permite morrer para que uma árvore nasça e produza sombra e frutos. Assim sucedeu com a vida de Jesus e por isso Ele compara-se ao grão de trigo. Como um grão de trigo, Jesus caiu na terra na sua paixão e morte, reapareceu e deu fruto com a sua ressurreição. O “muito fruto” que ele deu foi a Igreja que nasceu da sua morte, o seu corpo místico. Potencialmente, o “fruto” é toda a humanidade e não só os batizados porque Ele morreu por todos, todos foram redimidos por Ele, mesmo os que ainda não sabem disso.
Como sucedeu com a vida de Jesus assim deve acontecer com a vida de cada ser humano. Cair na terra e morrer é o caminho para dar fruto e para “salvar a própria vida” e continuar e viver. Se o grão de trigo se recusa a cair na terra ou vem um pássaro e come-o, ou seca ou desfalece e mofa num lugar húmido, ou é moído e transformado em farinha e é comido. Em qualquer dos casos o grão de trigo como tal não continuou a existir. Se, pelo contrário, é semeado, reaparecerá e conhecerá uma nova vida, como vemos todos os anos com os grãos de trigo semeados e que permitem uma nova colheita. Para que haja uma nova vida, o grão de trigo teve de desaparecer debaixo da terra, perdeu a sua identidade, renunciou a si mesmo, abriu-se à água e à terra, deixou-se penetrar por elementos estranhos e nutrientes para poder ser fecundo e multiplicar-se. O grão de trigo transformou-se em espiga. Se ele se tivesse fechado em si mesmo, impenetrável, suicidamente egoísta, assim teria apodrecido e morreria infecundo.
No plano humano e espiritual, Jesus ensina-nos que o ser humano tem de passar por um processo de transformação, isto é, por um processo em que a morte gera vida. A princípio parece ser uma contradição ter de morrer para gerar vida e multiplicar no entanto todo o sistema de frutificação está enraizado neste fundamento. Na realidade, a vida só poderá continuar a existir através de sepultamentos constantes e conscientes. Uns precisam de morrer para o seu orgulho, outros precisam de morrer para os seus vícios, outros para um génio incontrolável, outros para o desânimo contagioso. Seja qual for a esfera dessa morte, trará resultado salutar, trará satisfação e sossego de espírito para o coração atribulado.
Aquele que vive egoisticamente, preservando a sua vida para si mesmo, não pode produzir qualquer benefício porque é uma semente que jamais foi lançada mas que acaba por desaparecer na mesma, tornando assim uma existência válida só para si, guardou a vida para si mesmo e como não a quis perder acabou por perdê-la na mesma, como diz o texto do Evangelho.
O homem que quiser valorizar a sua vida tem de “nascer de novo”, tem de ter a coragem de morrer para o pecado, para o seu egoísmo, para a sua soberba, para a sua dureza de coração e doar e entregar a sua vida ao serviço dos outros. Isto é morrer para si mesmo. Este é um processo doloroso mas sempre necessário e é o processo que nos leva à verdadeira vida.
Jesus pôs a Sua vida ao serviço do Pai; recusou qualquer projeto pessoal de triunfo e de glória humana, para abraçar o plano de Deus para o mundo e para os homens. Denunciou as leis e os comportamentos geradores de sofrimento e por isso, foi preso, condenado e morto na cruz: a expressão suprema de uma vida entregue por amor. Reflitamos nesta lição do amor que nos “convida” a “nascer de novo”.
Sou um grão de trigo que vive de forma egoísta ou renuncio a mim mesmo em prol dos outros?
Em que aspetos e atitudes da minha vida estou disposto a morrer?
Que transformações preciso de fazer em mim, na minha maneira de ser e nas minhas atitudes para que possa dar fruto?
Tenho vontade e coragem de implementar este processo na minha vida, como jesus fez?
Jesus desceu até nós, “vestiu” a nossa humanidade, conheceu as nossas fragilidades, partilhou as nossas dores, medos e incertezas, experimentou as dificuldades do caminho que temos de fazer todos os dias. Tornou-se, verdadeiramente, nosso irmão… Por Sua intercessão diante do Pai, peçamos-lhe o que tanto necessitamos para nós e para os outros.
Com fé, rezemos fervorosamente, e aprendamos a discernir e a acolher a vontade do Pai.
Deus nosso Pai concedei-nos que nas provações da vida participemos intimamente na Paixão redentora de vosso filho para termos a fecundidade da semente que morre e sermos acolhidos como Vossa messe no Reino dos Céus.“
Abençoados com a comunhão do pão feito do grão de trigo que caiu na terra e que, na Eucaristia, se torna o corpo de Cristo benzemo-nos