Semana de 25 a 31 de dezembro de 2022 SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR- Ano A
Nesta época, junto ao presépio, sob a Luz de Belém a rasgar a escuridão e a Bíblia aberta em Lc 2, 1-14 é o cenário prefeito para acolhermos este Jesus que nasce e cresce dentro de nós…
Jubilosos e fortificados pela Luz do Verbo que se fez carne e habita no meio de nós, benzemo-nos
Em nome do Pai, em nome do Filho, em nome do Espírito Santo, estamos aqui,
Para louvar e agradecer, bendizer e adorar: estamos aqui, Senhor, ao Teu dispor. Para louvar e agradecer, bendizer e adorar: e aclamar Deus Trino de Amor.
Em nome do Pai…
É NATAL! Sintamos dentro de nós, a chama acesa e o amor de Deus a brilhar e a transbordar no nosso coração! Celebremos com louvor!
Neste dia feliz, a alegria extravasa do nosso coração pela presença desse Menino Deus envolto em panos e colocado numa manjedoura… Um Rei que Se manifesta na simplicidade, pobreza e total despojamento e que vem, sem cessar, ao nosso encontro para nos mostrar o Caminho, a Verdade e a Vida. Sintamo-nos gratos pelas inúmeras bênçãos que Deus nos concede e digamo-las, em voz alta.
A fim de nos tornarmos, verdadeiramente, “filhos de Deus”, acolhamos a “Palavra” no texto de Lc 2, 1-14 e deixemos que nos transforme e nos dê a vida plena. Quem vai ler hoje?
Naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto, para ser recenseada toda a terra. Este primeiro recenseamento efectuou-se quando Quirino era governador da Síria. Todos se foram recensear, cada um à sua cidade. José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e da descendência de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que estava para ser mãe. Enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar à luz e teve o seu Filho primogénito. Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos e guardavam de noite os rebanhos. O Anjo do Senhor aproximou-se deles e a glória do Senhor cercou-os de luz; e eles tiveram grande medo. Disse-lhes o Anjo: «Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura».
Tentemos perceber este texto do Evangelho que nos apresenta o “Filho Primogénito” cheio de amor e de verdade, cuja Palavra gera vida para o homem e para o mundo.
A celebração está repleta de contrastes que nos ajudam a refletir sobre o acontecimento em si mesmo. Deixo aqui alguns desses contrastes.
Um decreto humano e uma boa notícia divina S. Lucas apresenta o nascimento de Jesus como uma boa notícia para a humanidade concreta, inserida na história com todas as suas implicações. Enquanto o império romano decreta uma ordem (em grego: dogma) “para ser recenseada toda a terra”, o mensageiro do Senhor anuncia (em grego: euaggelizomai, evangelizar) o nascimento do Salvador, alegria para todo o povo. O recenseamento tinha como objetivos o controle das pessoas e garantia de tributação e era uma forma de opressão política e económica. Os tributos cobrados por Roma passavam de 50% do rendimento das famílias dos povos colonizados. O nascimento de Jesus anuncia um novo tempo para a humanidade, chamada a acolher Aquele que pode conduzi-la à verdadeira liberdade, caso esteja disposta e aberta a assumir novas atitudes iluminadas pelo Evangelho. Todos se apressaram em cumprir o decreto romano mas só os pastores escutaram a boa notícia do nascimento do Salvador e foram ao presépio.
A glória de Deus e a manjedoura “Encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura.” Quando Deus enviou o Seu Filho para nascer em Belém, Ele foi recebido com extrema humildade e sem celebração humana. Jesus veio em humildade para que aprendamos a ser humildes porque esta é uma condição daqueles que vão morar com Deus: “bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos céus” (Mt 5, 3). Se contemplamos o Menino Deus na manjedoura na sua simplicidade, pobreza e total despojamento, se considerarmos a razão do seu nascimento, o seu modo de vida e o porquê da Sua morte e confrontarmos tudo isso com o nosso modo de vida, as ideias e projetos, constatamos uma discrepância tão grande que chega a ser escandalosa. Precisamos de entender e assimilar a mensagem do presépio. Um Deus que podia ter nascido da forma mais esplendorosa escolheu a manjedoura para nos ensinar que o objetivo da vida não é acumular riquezas ou glórias deste mundo mas viver em humildade e simplicidade.
Hospedagem e rejeição “Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.” Quando José e Maria chegaram à região de Belém, mesmo tendo vários parentes na região, não conseguiram pousada em nenhum lugar. Fico a imaginar as respostas dos parentes, conhecidos e rececionistas das hospedarias de Belém: “desculpe, mas está cheia”, “todos os quartos estão ocupados”. Em alguns casos podem ter visto uma placa na porta escrito “lotado” ou “não há vagas”. Mesmo assim José continuou a procurar. Como diz o Evangelho de S. João “veio aos seus e os seus não o receberam” (Jo 1, 11). As hospedarias ocupadas lembram o coração que está sempre ocupado com tanta coisa e não deixa uma oportunidade para Jesus entrar e ser acolhido. Passados dois mil anos a correria é a mesma. Eles corriam para formalizar um decreto e nós corremos para nos reorganizarmos. Estamos ocupados demais, a correr de um lado para o outros e não percebemos que não existe espaço e lugar para Jesus. O nosso coração está cheio demais, carregado demais, lotado com tantas inquietudes que não há espaço para Jesus. O clima é de festa, luzes, decoração, presentes, comidas, família reunida, mas para Jesus não sobrou espaço.
Chamados a participar no reino de paz, justiça e santidade, vivendo em humildade e simplicidade a exemplo de Jesus, comprometamo-nos com a pratica do bem e reflitamos:
O que ocupa o meu coração e me impede de hospedar Jesus?
De que forma posso encontrar espaço para Jesus?
Serei eu capaz de receber Jesus condignamente?
Sigo o exemplo de humildade deixado por Jesus?
O que sigo mais: os decretos humanos ou os mandamentos divinos?
Abençoados, iluminados e enternecidos por Deus que nos ama até ao inimaginável e que, por amor, nos concede o Seu próprio Filho, o Verbo revestido de pobreza, humildade e fragilidade, na certeza que escuta as preces que Lhe dirigimos, em voz alta, sem nos esquecermos de todos aqueles que ainda não têm espaço para Jesus.
Contemplando o presépio e a Luz, sintamos a esperança, a serenidade, a alegria e a paz que trazem ao nosso coração e rezemos de mãos dadas.
Senhor Jesus, que iluminados pelo espírito do Teu nascimento, sejamos capazes de compreender que o verdadeiro significado do Natal é Jesus Cristo, que deverá ter sempre lugar na manjedoura dos nossos corações.
Atentos à presença do Menino Deus que habita em nós, benzemo-nos
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
E um poema como sugestão de leitura? Hã? Quem tem mais aptidão para declamar poesia? Poema “Natal” de José Régio
Mais uma vez, cá vimos Festejar o teu novo nascimento, Nós, que, parece, nos desiludimos Do teu advento!
Cada vez o teu Reino é menos deste mundo! Mas vimos, com as mãos cheias dos nossos pomos, Festejar-te, — do fundo Da miséria que somos.
Os que à chegada Te vimos esperar com palmas, frutos, hinos, Somos — não uma vez, mas cada — Teus assassinos.
À tua mesa nos sentamos: Teu sangue e corpo é que nos mata a sede e a fome; Mas por trinta moedas te entregamos; E por temor, negamos o teu nome.
Sob escárnios e ultrajes, Ao vulgo te exibimos, que te aclame; Te rojamos nas lajes; Te cravejamos numa cruz infame.
Depois, a mesma cruz, a erguemos, Como um farol de salvação, Sobre as cidades em que ferve extremos A nossa corrupção.
Os que em leilão a arrematamos Como sagrada peça única, Somos os que jogamos, Para comércio, a tua túnica.
Tais somos, os que, por costume, Vimos, mais uma vez, Aquecer-nos ao lume Que do teu frio e solidão nos dês.
Como é que ainda tens a infinita paciência De voltar, — e te esqueces De que a nossa indigência Recusa Tudo que lhe ofereces?
Mas, se um ano tu deixas de nascer, Se de vez se nos cala a tua voz, Se enfim por nós desistes de morrer, Jesus recém-nascido!, o que será de nós?!