Semana de 20 a 26 de março de 2022 III Domingo Quaresma – Ano C
Escolhemos um lugar da nossa casa que nos transmita serenidade, conforto e sem estímulos que nos distraiam. Tenhamos connosco uma cruz, a Bíblia aberta em Lc 13, 1-9 e uma vela. Deixemos que a presença de Deus humilde, paciente e discreto possa ser percebida pelos nossos corações atentos e inquietos. Quando todos nos sentirmos preparados, acendemos a vela e começamos.
Sequiosos de viver em íntima comunhão com Deus, benzemo-nos
Em nome do Pai, em nome do Filho, em nome do Espírito Santo, estamos aqui,
Para louvar e agradecer, bendizer e adorar: estamos aqui, Senhor, ao Teu dispor. Para louvar e agradecer, bendizer e adorar: e aclamar Deus Trino de Amor.
Em nome do Pai…
Louvemos a Deus paciente, que tudo sabe sobre nós e que, como amigo, não nos julga, mas ajuda-nos a mudar.
Tenho algo escondido em mim Que nunca partilhei contigo Eu sei, que tudo Tu sabes de mim E nunca me julgarás, como amigo
Coisas que Te desagradam Que me consomem a alma Que mudam o que imaginaste para mim Por isso quero mudar
Ajuda-me Senhor a mudar, O velho eu que tanto escondo Não tenho ninguém, eu não tenho nada, Tenho-te a Ti, Jesus a Ti
Aceitemos o convite de Deus à nossa mudança radical, à reformulação total da nossa vida (em mentalidade e atitudes). Mostremos-Lhe o quanto estamos ávidos de Lhe agradar com a nossa conversão, manifestando-Lhe em voz alta a nossa gratidão por tudo o que Dele recebemos.
Escutemos, na voz de um de nós, a mensagem forte e renovadora que Jesus nos trouxe da parte do Pai, em Lc 13, 1-9
Naquele tempo, vieram contar a Jesus que Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus, juntamente com o das vítimas que imolavam. Jesus respondeu-lhes: «Julgais que, por terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo. E aqueles dezoito homens, que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais que eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante. Jesus disse então a seguinte parábola: «Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou. Disse então ao vinhateiro: ‘Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Porque há-de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’ Mas o vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano».
Percebamos esta mensagem de Jesus para aprendermos a viver à luz das palavras de Deus
O evangelho apresenta-nos duas histórias da vida real: o massacre feito por Pilatos e o desabamento da torre de Siloé. A mentalidade corrente na altura e ainda hoje considerava toda a desgraça ocorrida como castigo por uma culpa cometida. Somos inclinados a cultivar uma ideia errada e a acreditar que todas as desgraças ou coisas ruins que nos acontecem são castigo de Deus. Quando somos atingidos por uma doença ou um acontecimento doloroso, surge imediatamente a questão: “mas que fiz eu de errado para merecer isto?” Está enraizado em nós a dinâmica: onde há crime, pecado ou algo errado, deve haver punição, pena, castigo.
Jesus esclarece que as tragédias e as desgraças não são castigos. Ele compara as duas situações e questiona os discípulos, dizendo que eles não morreram por serem culpados. Jesus ensina que o pecado cometido não desencadeia de forma automática um castigo da parte de Deus. Jesus convida-nos a fazer a experiência dum Deus da graça e não dum Deus de retribuição, numa espécie de “toma lá, dá cá”, em que castiga ou abençoa conforme os nossos méritos.
Nem a crueldade de Pilatos, nem o desabamento da torre, bom como nenhuma fatalidade na história é castigo de Deus para punir os pecadores. Existem governantes cruéis, como Pilatos, acontecem acidentes das mais variadas formas, advém catástrofes naturais, mas nada disso deve ser interpretado como castigo de Deus. Deus não promove assassinatos em massa. O que acontece é que existe a maldade humana e esta mata. Não é Deus que inspira Pilatos a matar. Ele não sussurra planos no coração de quem mata. Não é Deus que destrói vidas, famílias…A maldade mata pela atitude, pelo orgulho, pela ganância, pela indiferença.
Jesus não fornece uma explicação teológica para o mal mas aproveita estes dois acontecimentos para nos chamar à conversão, “se não vos converterdes” – diz, para nos despertar para a brevidade da nossa vida aqui na terra e, assim, nos impulsionar a uma mudança de mentalidade. A parábola da figueira mostra a paciência de Deus diante da resistência do ser humano no processo lento de mudança de mentalidade e conversão. Num primeiro momento, Jesus apresenta o proprietário com as características do Deus que os judeus imaginavam: alguém que vem para acertar contas e disposto a castigar, cortando a figueira.
Ao contrário de João Batista, Jesus mostra que não veio para cortar árvores infrutíferas mas para adubá-las e fazê-las produzir. Esta é a esperança: o ser humano tem sempre diante de si “mais um ano”, porque Deus não desiste dele. Sabendo dos riscos das fatalidades da vida, os dois casos citados servem de alerta, a conversão é uma necessidade urgente e inadiável. Deus dá todo o tempo mas o ser humano não conhece a durabilidade desse tempo. É urgente aproveitar esse “ano mais”.
Deus é misericordioso mas espera que cada um de nós dê frutos. O Senhor deseja encontrar em nós não apenas folhagem, isto é, aparência, mas testemunho de conversão, de busca de santidade, de vivência de amor, ternura, bondade, partilha, serviço…
Não sabemos quanto tempo Ele demorará, tenhamos pressa, e deixemo-nos “adubar” pelo vinhateiro que é Jesus Cristo e conduzir pelo Espírito Santo.
Nesta caminhada para a Páscoa somos chamados a repensar a nossa existência; Deus libertador convida-nos à conversão e propõe-nos a transformação em Homens Novos, livres da escravidão do egoísmo e do pecado, a fim de renascermos, com Jesus, para uma vida frutificada em gestos concretos de amor. Reflitamos:
Quais são os valores a que eu dou prioridade e que me afastam de Deus e das Suas propostas?
Concretamente, em que é que a minha mentalidade deve mudar?
Aproveito cada dia que o Senhor me concede para mudar o que está mal e frutificar?
Que frutos espera o Senhor encontrar em mim?
Como interpreto as desgraças e coisas ruins que acontecem na minha vida e no mundo?
Deus é infinitamente paciente para connosco. Ele sabe da nossa fragilidade e conhece os nossos pecados… De joelhos, perante a cruz, vamos abrir o nosso coração e dirigir-Lhe, em voz alta, os nossos pedidos para as nossas necessidades e para as dos nossos irmãos.
Com o nosso coração e o nosso ser voltados para Aquele que pode dar verdadeiro sentido à nossa vida, rezemos confiantes
Senhor, bendizemos o Teu nome… Que o Teu Espírito ilumine e guie os nossos pensamentos, as nossas palavras e os nossos actos para que, em nós, se produzam os frutos que Tu esperas.
Revestidos com a proteção do Deus de bondade e paciente, que nos acolhe com o Seu amor, benzemo-nos